Friday, August 12, 2005

Capítulo 1 - Escravos da dor - Parte 1

Aos poucos a sua mente vai se enchendo de ruídos. Pequenos ruídos que vão crescendo, crescendo até que fazem com que acorde sobressaltado. Estavam a chamar por si, há tanto tempo que ninguêm chamava pelo o seu nome. Há tanto tempo que nem ele próprio se recordava dele. Parecia que estava uma multidão à porta do seu apartamento a gritar desesperadamente por ele, como se do fim do mundo se tratasse. Enfiando a cabeça debaixo da almofada, tenta se dispersar do barulho. Só pode ser um pesadelo, ele não está com pessoas à tanto tempo, ele fugiu de tudo e de todos para que o esquecessem, quem poderia querer procurar por ele? Mas o seu nome ecoa cada vez mais forte ao mesmo ritmo com que batem na porta:
-Pedro!Pedro!Pedro!Pedro!
-Párem! Deixem-me em paz! Desapareçam!
Como por magia, todo o ruído pára. As vozes, os gritos, os murros e pontapés na sua porta. Aliviado pensa:
-Agora vou poder dormir. - mas não consegue ter inquietação no seu espiríto. Estava curioso para ver o que se tinha passado. Durante alguns minutos debate-se com esta indecisão. Ele só queria sossego e agora que o teve a sua curiosidade implrava-lhe para que ele fosse até à porta. E assim acabou por fazer. Levantou-se e deslocou-se até à porta. Encostou o ouvido à madeira para verificar se havia algum ruído do outro lado. O silêncio chegava a ser intimador. Confirma pelo óculo e não vê ninguêm. Enquanto tira lentamente, para evitar fazer barulho, as trancas da porta, a sua pulsação aumenta progressivamente até que faz um compasso de espera para tentar acalmar e abre bruscamente a porta. Espreita rapidamente para o corredor mas acalma-se quando vê que estava vazio. Tem uma sensação estranha de novidade, como se a primeira vez em que está a olhar para aquele corredor, mas isso é ridículo pensa ele, mora ali desde sempre. Imerso nestes pensamentos, volta para dentro, fecha a porta, coloca as tranca se quando se volta solta um berro. O seu apartamento estava cheio de pessoas, todas estavam paradas, como se em transe, a olhar para o infinito. Ele encosta-se à porta, a tentar desajeitadamente abrir a porta, apoderado pelo medo, mas eles não se mexem nem um milímetro. O medo é substituído rapidamente pela curiosidade. Começa a aproximar-se da pequena multidão e passa os olhos por eles todos. Começa a ter uma estranha sensação de dejá vú, aquelas caras são lhe todas estranhamente familiares. Faz um esforço enorme para tentar se lembrar mas não se recorda de nada. Percorre as várias caras e com todas tem a mesma sensação. Mas de onde ele conhece esta gente toda? Pergunta-se mais que uma vez mas novamente não chega a resposta nenhuma. Volta as atenções para a primeira pessoa novamente e fica a fixá-la. A sua cara, tal como todas as restantes, é extremamente pálida. Antes que pudesse reparar na sua cara por completo, a sua atenção é atraída para os olhos. Tudo o resto parece-lhe passar despercebido ou desfocado, está completamente obsorvido por aqueles olhos cinzentos que não páram de focar o infinito. Ele aproxima-se cada vez mais, ficando com os olhos a escassos centímetros uns dos outros. Não consegue deixar de admirar o infinito e o vazio que brotam dos olhos que estão mesmo à sua frente...até que eles o focam a si. E ele diz em tom baixo, rouco mas aflito.
-Socorro!

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