Saturday, July 21, 2007

Nós Somos Os Mortos

Pedro não reage perante o que ouve e sem sequer fazer um esforço para se conter solta uma sonora gargalhada. Assim que olha para os dois que estão à sua frente que se mantêm na mesma expressão séria, diz:
- Vocês não estão a falar a sério, pois não?
O homem levanta-se, coloca as mãos atrás das costas e caminha até ao canto do pequeno quarto:
- Diz-me... lembras-te como vieste cá parar?
- Já disse a ela, através do meu quarto.
- E lembras-te perfeitamente disso? - o homem volta-se como se consegue verificar, olhando nos olhos de Pedro, se ele falava a verdade.
- Sim, perfeitamente. Um homem já de idade veio até a mim... com uma conversa estranha, deu-me uma esfera de cor metálica... prateada. E ela soltava um brilho, verde, quase irreal. E foi a fixar esse brilho que quando abri a porta do meu quarto, voilá, aqui estou eu.
- Então e conta-nos... - o homem senta-se novamente na cadeira com os braços apoiados nos joelhos e olhando fixamente para Pedro - ... o que fazias tu?
- Como assim?
- Qual era a tua ocupação? - Pedro olha para baixo, tentando responder, mas não consegue se lembrar - Então e hobbies? Família, amigos, animais de estimação?
Depois de um longo silêncio e esforço por parte de Pedro, este desiste:
- Eu... eu não sei...
Ela poe a mão sobre o ombro dele e diz-lhe carinhosamente:
- O despertar nunca é fácil. Tudo te vai parecer fantástico, não vais acreditar naquilo que ouves, mas a vontade de saber mais e de realmente acreditar... só pode partir de ti.
Pedro levanta os olhos e depois de a fixar, volta-se para o homem:
- O que é vocês querem dizer com o "estamos todos mortos"?
- Todos nós já morremos, todos os que viste no salão, estão todos mortos.
- Ok, ok. Então e aqueles... aqueles soldados?
- Os Seraphs?
- Sei lá!
- Sim, são os Seraphs. Eles não são pessoas, nunca foram. São energia do Monarca e por isso são industrutíveis, porque retiram energia da terra, do mundo. São incorruptíveis porque não podem trair o que são. São insensíveis porque o Monarca nao possui qualquer tipo de sentimento e nem sequer o ódio ele tem, apesar de o fingir o ter. Ele apenas o é.
- Já o viram alguma vez?
- Não, não... nunca ninguém vê o Monarca e sobrevive.
- Então como é que sabem que ele existe? Não têm medo que seja apenas um conceito criado para prender as pessoas a dogmas e regras?
- Todos nós o sentimos, como se fizesse parte de nós e nós dele. Apenas sabemos que ele está lá assim como sabemos que está frio ou calor. Sentimos isso. Não o sentes?
- Epá... eu mal me sinto a mim mesmo, quanto mais os outros...
- Irás sentir. Por enquanto é melhor descansares. - o homem grande levanta-se e a mulher segue-lhe o exemplo.
- Uma coisa que não entendo... se vocês não têm nome... como é que se chamam uns aos outros?
Eles olham um para o outro, sorriem e saiem do quarto sem responder.
Pedro adormece quase instantaneamente.

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