Wednesday, August 17, 2005

Capítulo 1 - Dormente - Parte 2

-Ahhhhh! - O grito de Pedro rasga o silêncio da noite. Ele está coberto de suor e coma respiração descontrolada. Fica a olhar para a parede, tudo parece estar normal, o apartamento está vazio, o dia lá fora continua cinzento, a chover e a trovejar. Há tanto tempo que tem estes sonhos que quase que fazem parte do seu quotidiano, mas também o fizeram questionar: "É estranho", pensa ele, " os dias são todos iguais...". Cada vez mais se questiona acerca do significado dos seus sonhos e cada vez sente mais que algo não bate certo. Na sua mente começam a surgir questões que ele não se recorda de colocar antes, questões que nunca lhe preocuparam. Ele precisava de respostas e para tal tinha que fazer algo que tinha dito a si mesmo que não iria voltar a fazer. Ele ia sair do seu quarto.
Assim que sai do quarto tudo parece estranho, como se fosse a primeira vez que ali estava, mas isso só o deixava mais confuso. Como podia ser a primeira vez que ele estava naquele sítio se era impossível entrar para o quarto sem passar pelo corredor, onde se encontrava? E ao pensar nisso, lembra-se de não ter memória de ter chegado ao quarto, de há quanto tempo foi, do porquê de não querer sair e de passar os dias fechado. Uma pergunta leva a outra e cada vez mais a sua curiosidade vai crescendo. Descendo as escadas mergulha nestes pensamentos e não repara na pequena sombra que espreita atrás de si. Ao chegar á porta, surpreende-se por não estar a chover e a trovejar, embora o céu esteja cinzento. O que vê na rua não lhe satisfaz também esta sua recém adquirida curiosidade. Nada daquilo era familiar, embora conseguisse notar que algo não estava normal. Em frente ao seu prédio, do outro lado da estrada, tinha vários autocarros parados e umas poucas pessoas a passar. Notou que todas elas saiam do mesmo café. Também achou estranho que no seu lado da rua, não houvesse pessoas. É curioso como aos poucos os seus raciocínios estavam cada vez mais claros e como a sua percepção estava mais aguçada e insaciável por todos os pormenores. Resolveu ir até ao café de onde todos saiam. Assim que entrou lá achou estranho que toda a gente viesse das traseiras da cozinha. Olhou em redor para ver se era o único que achava aquilo estranho, mas ninguém parecia estranhar. Também ninguém parecia notar que ele estava ali. Ninguém a não ser um homem de meia idade, com aspect de vagabundo sentado numa mesa que o estava a olhar fixamente. Sentindo um impulso irresistível de ir ter com ele, não nega esse impulso e senta-se na mesa. Antes que pudesse dizer algo, o vagabundo diz:
-Vieste mais cedo do que esperava.

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